Mauro da Nóbrega

terça-feira, 19 de abril de 2016

Cordel - A História de Antonio Pancada

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A HISTÓRIA DE ANTONIO PANCADA

AUTORES: ARISMON PEREIRA (TÓ)  
E MAURO DA NÓBREGA

Antonio Pancada era um negro
De muita disposição
Saltava como um macaco
Era forte como um leão
Era muito respeitado
Por todos da região

Vindo ele do nordeste
Aqui em Almas chegou
Foi trabalhar nos garimpos
E a sua vida mudou
Por ser forte e decidido
Um fazendeiro o contratou

Nos trabalhos na fazenda
Ele sempre destacava
Pegava algumas empreitadas
Fazia como o seu patrão mandava
Recebia um bom dinheiro
E o seu prestigio aumentava

Na arte da capoeira
Rodava como um pião
E no pátio da fazenda
Para dar demonstração
Lutava com cinco cabras
E deixava todos no chão

Ele tinha o corpo fechado
Era o que o povo comentava
Que ele sabia magia negra
Mas pra ninguém ensinava
Faca nele entortava a ponta
E bala também não acertava
  
Trabalhou firme na fazenda
Durante um ano inteiro
Como era moço solteiro
Juntou bastante dinheiro
E também se apaixonou

Pela filha do fazendeiro

A moça era muito linda
Filha única do patrão
E por aquela formosura
Ele sentiu forte paixão
Quando ele avistava a moça
Batia forte o coração

Com era um rapaz decidido
Da moça se aproximou
E com grande sinceridade
O namoro ela aceitou
Namoravam escondido
E a moça ele engravidou

Não falou com o pai dela
Pois não julgava preciso
Mas ele ficou sabendo
Do fato acontecido
E como não gostava de negro
Ficou muito aborrecido

Matar Antonio Pancada
Foi a forma que encontrou
Mas pra enfrentar o negro
A coragem lhe faltou
Então contratou dois pistoleiros
E a eles assim falou:

Quero que matem Antonio Pancada
Mesmo que seja à treição
Aquele negro atrevido
Não merece o meu perdão
Não tenham piedade dele
Corte-lhe o pé a facão

Um dos pistoleiros contratados
Pela moça tinha afeição
Mas ela não lhe dava bola
Só por Antonio sentia paixão
E ele a amava muito
Era a dona do seu coração

Ele fazia muitos planos
Juntando o seu dinheiro
Pensava em fugir com a moça
Sem ter certo o paradeiro
Mas os seus passos eram vigiados
A mando do fazendeiro

Antonio chegou a comentar
Aos amigos de jornada
Que pressentia a morte
Rondando a sua estrada
E que só pensava em ir embora
Levando a sua amada

Pra aumentar o seu dinheiro
Uma roça de fumo ele plantou
Na fazenda de um amigo
Que a terra lhe emprestou
Cuidou bem da terra plantada
E a lavoura prosperou

Com ajuda do amigo
Colheu toda a plantação
Colocou no lombo do jumento
Toda a sua produção
E pra vender o seu fumo
Rumou pra Rio da Conceição

No caminho ia tranqüilo
A natureza observando
O vento batendo nas arvores
A passarada cantando
Mas ele não sabia
Que a morte vinha chegando

No lombo do seu jumento
Entre as cargas de fumo sentado
Pensando na sua vida
Em tudo que tinha passado
Á beira do córrego Andarola
Ele já tinha chegado

 Dos perigos do caminho
Não tinha como saber
No meio do Andarola
O seu jumento foi beber
Os pistoleiros estavam ali
E ele não pode perceber

Por destras de um arvoredo
O inimigo apareceu
Antonio Pancada deu um pulo
Foi o último gesto seu
Logo veio um disparo
E o seu corpo estremeceu

Com dois rifles apontando
Em sua direção
Mesmo ele estando ferido
Teve uma rápida reação
Saltou do lombo do jumento
E correu para um capão

 Os pistoleiros foram atrás
Seguindo o sangue derramado
Acharam Antonio Pancada
Deitado todo ensangüentado
Deram mais um tiro nele
E ele deitou de lado
Um deles se aproximou
Sorrindo de mangação
No mesmo instante tirou
Da bainha o seu facão
Cortou o pé de Antonio
Pra levar pro seu patrão

Antonio bastante ferido
Soltou um grito de dor
Recebeu mais um disparo
E o seu corpo de vez tombou
Agora já sem vida
Desprezado ali ficou

Encontraram o corpo de Antonio
Que por amigos foi sepultado
E todo mundo comentava
Que foi crime encomendado
Quando a policia procurou o fazendeiro
Ele já tinha um advogado

Na fazenda a notícia
Imediatamente chegou
A amada de Antonio
Por pouco não abortou
Ele sentiu um desgosto profundo

Por perder o seu amor

Revoltada com o pai
Por muitos dias ficou
Porque ele mandou matar
O homem que ela tanto amou
Então decidiu que ia embora
E a ninguém comunicou

A um boiadeiro do Piauí
Que um dia ela encontrou
Vendeu todo a gado que tinha
E o dinheiro guardou
Para ir embora de vez
O momento ela esperou

Quando ficou sozinha em casa
A fuga ela preparou
Selou um cavalo ligeiro
E no lombo ela saltou
Chegando à cidade de Almas
Para Brasília rumou

O seu pai desesperado
Por ela muito procurou
Mas ela fugiu sem deixar marcas
Nos lugares que passou
O velho quase teve um ataque
Quando o boiadeiro chegou

Ele veio pra levar o gado
Que a moça lhe vendeu
Quando o fazendeiro viu
Que aquilo não era mais seu
Ficou sem achar o chão
Subiu no Céu e desceu

Ficou triste e moribundo
Sem alegria na vida
Perdeu todo o seu gado
Perdeu a filha querida
Que foi embora de vez
E partiu sem despedida

O velho ficou pobre
Pagando advogado
Pra lhe livrar-se da cadeia
Vendeu o resto do gado
Perdeu a sua família
E ficou na justiça enrolado

A moça ficou em Brasília
Com o seu filho morando
Nunca mais se apaixonou
Pra não ter outro desengano
Pois a morte do seu amor
Deixou seu coração sangrando

São muitas as escolhas
Que fazemos nessa vida
Umas nos trás alegrias
Outras nos causam feridas
Mas acertos e desacertos
Fazem parte da nossa lida

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