Mauro da Nóbrega

terça-feira, 19 de abril de 2016

Cordel - O Menino Pagão

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O MENINO PAGÃO
Autor: Mauro da Nóbrega

Eu vou contar agora
Uma história de arrepiar
De uma criança que morreu
E enterraram sem batizar
Ele vinha toda noite
Se lamentar e chorar

Esse fato aconteceu
Segundo quem me contou
Numa fazenda aqui em Almas
Por nome de gritador
Agora prestem atenção
Aonde a coisa acabou

O povo daquela região
Já estava acostumado
Em ouvir todas as noites
Aquele chorar penado
De um menino pagão
Que nunca foi batizado

Esperavam uma visita
De um Padre o ano todo
Pra batizar aquela alma
Que a noite vivia em choro
Pra ela ganhar o sossego
E dar sossego ao povo

Mas um dia por acaso
Passando naquela região
Um senhor viajante
Dirigindo um caminhão
Parou na porta da fazenda
Vejam só a conclusão

O caminhão furou o pneu
E sem estepe pra trocar
Como já era noitinha
Ele teve que pernoitar
Quando anoiteceu
A alma começou a chorar
Ele sem saber de nada
Levantou na escuridão
Botou na mão um resolver
Pegou na outra um facão
E saiu caminhando
Pro rumo da assombração
Como ele não via nada
Só escutava o chorar
Cadê você assombração
Ele começou a gritar
Mas a assombração não veio
E ele pôs-se a atirar
Deu vários tiros no escuro
Pro rumo que o choro vinha
Usou as balas do revólver
E as que estavam na bainha
Mas nada acontecia
Continuava a ladainha
Se o revólver não serviu
Muito menos o facão
Então ele resolveu
E tomou uma decisão
Botou o joelho na terra
E começou uma oração
Pediu a Deus do Céu
Para ali naquela hora
Salvar aquela alma penada
Pediu até a Nossa Senhora
Mas o choro continuava
E a alma não ia embora
Como ele tinha usado
Seu revólver e seu facão
As rezas que ele rezava
Não saia do seu coração
O que ele queria mesmo
Era livrar da assombração
Suas rezas eram boas
Mas ele rezava sem fé
Como não viu resultado
Logo ele ficou de pé
E disse se Deus não resolve
Vou chamar por lúcifer
Vá pro meio do inferno
Seja lá você quem for
Satanás que te carregue
Falou ele com fervor
Não volte nunca mais aqui
Chega de tanto terror
O choro foi silenciando
Logo começou a soprar
Uma brisa bem suave
Como a que sopra no mar
Nunca mais se escutou
Aquela criança chorar
Já contei muitas histórias
Agora eu vou parar
Se você souber alguma
Pode vir me contar
Que no meu próximo cordel
Garanto que vou relatar

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