Mauro da Nóbrega

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Cordel - O Rico e o Pobre nas Linhas do Cordel

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O RICO E O POBRE NAS LINHAS DO CORDEL
Autor: Mauro da Nóbrega

Vou tentar falar um pouco
Fazendo uma comparação
De como vivem esses dois
Dividindo o mesmo chão
Onde um é sofrimento
E o outro é  ostentação

Vou começar a história
Falando do visual
Rico de cabelo esquisito
Segue a moda nacional
O pobre quando inventa isso
É drogado ou marginal

Em casa de pobre  tem
Um calendário de santo
Um retrato de político
Pendurado em um canto
Um jarro com um pé de arruda
Para quebrar encanto

Já na casa do dito rico
Tem um quadro bem pintado
Logo na sala de estar
Às vezes é todo borrado
Mas dizem que é arte moderna
E quem olha fica encantado

Mesmo sem entender nada
Mas para não se rebaixar
Diz que é muito lindo
E se põe a admirar
Uma obra que quem pintou
Sequer sabe o que quis pintar

Pobre é metido à valente
E gosta da desunião
Quando reúne em uma festa
Logo surge uma confusão
E sempre a festa termina
No cacete ou no facão

Quando rico faz uma festa
E sempre na harmonia
Às vezes com fingimento
Ou mesmo por diplomacia
Mas nunca perde a elegância
E não há cenas de valentia

Em toda casa de pobre
Tem um cachorro e um gato
O cachorro só tem pulga,
Rodoleiro e carrapato
O gato só sabe dormir
Nunca corre atrás de rato

Se o cachorro latir,
Cai de tanta fraqueza
Dar pra contar as costelas
Devido a sua magreza
Só come quando cai comida
Ou osso embaixo da mesa

Na casa do pobre tem
Uma TV chuvisquenta
Um som que não toca nada
Sete pés de pimenta
Uma planta pra mal olhado
E um chuveiro que não esquenta

Já na mansão do rico
Tem um cachorro ensinado
Pronto pra pegar bandido
É bonito e bem zelado
Todo dia toma banho
Com xampu importado

A geladeira do pobre
Parece um ninho de galinha
Só tem ovos nas gavetas
Para comer com farinha
Uma garrafa peti com água
E um resto de sardinha

O pobre reúne a família
Pra comer o que tiver
Seja arroz, seja farinha
Cada um come o que der
E sempre agradecem a Deus
Com muita humildade e Fé

A geladeira do rico
Dar gosto de se ver
Tem comida de todo tipo
Mas ele não pode comer
Porque rico é ocupado
Não tem tempo pra viver

Nome de filho de pobre
É coisa de se admirar
Os pais escolhem cada nome
Botam dois enes, põe agar,
São nomes do estrangeiro,
Difícil  de pronunciar

E quando nasce gêmeos
Aumenta a complicação
Bota nome de cantor
Ou artista de televisão
Bota nome de jogador
Que joga na seleção

O nome do filho do rico
E sempre nome popular
É Manoel, Joaquim, Antonio
Pedro, Paulo ou Vilmar
Miguel, José ou Vicente
Francisco, Raimundo ou Oscar

A vida de todo rico
É sempre na correria
Ele tem TV por assinatura
Mas não assiste nem um dia
Pois rico nunca tem tempo
Pro prazer e a alegria

Até em tempo de eleição
O pobre é desvalorizado
O rico pega o dinheiro
E o pobre é escravizado
Enquanto o pobre trabalha
O rico fica deitado

O rico quando adoece
Vai pra clinica particular
Deita em uma cama bem limpa
O doutor vem sempre olhar
Tem tratamento decente
E só sai se melhorar

O pobre quando fica doente
Vai direto pro hospital
Quando chega na recepção
Ali já lhe recebem mal
E na hora do  atendimento
Lhe tratam como animal

Jogam em uma sala lotada
Ou às vezes no corredor
Uns deitam até no chão
Gritando, sentido dor
Mas não aparece ninguém
Nem enfermeira, nem doutor

Essa é a realidade
Que vimos no dia-a-dia
Onde seres da mesma espécie
Não dividem a mesma alegria
Mas um dia todos irão
Pra debaixo da terra fria

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